sexta-feira, 21 de maio de 2010

Em quem vou votar pra presidente, por David Coimbra

O Jesus Cristo ideal é o filósofo, não o Cristo.

A psicanálise verdadeiramente revolucionária de Freud é a do pensamento, não a terapêutica.

O budismo de Buda não é religião. Nem crença. Nem seita. É filosofia, e filosofia ateia.


Os homens se apropriam das grandes ideias e as deformam de acordo com seus interesses. Jesus, Freud e Buda estremeceriam ante o uso que se faz do cristianismo, da psicanálise e do budismo.

O centro ideológico da filosofia de Jesus foi expresso no Sermão da Montanha. É um manifesto genial e, depois de 21 séculos, ainda avançado. Num trecho essencial, Jesus diz que as pessoas julgam os outros com sua própria medida. E adverte:

– Com a medida que julgares, serás julgado.

Não se trata de maldição, nem de previsão mística: é conclusão lógica. Ninguém é totalmente bom ou totalmente ruim. Você pode ver coisas boas ou más em cada pessoa, depende de você. Se dentro de você reside a maldade, você verá maldade em tudo que olhar. Você interpreta o mundo e as outras pessoas de acordo com seus próprios parâmetros.

Assim, numa cultura em que o dinheiro é o principal valor, como a brasileira, as pessoas sempre raciocinam a partir do seguinte questionamento:

“O que ele quer ganhar com isso?”

Os outros nunca fazem nada por acreditar no que estão dizendo. Os outros sempre têm interesses escusos. Interesses, evidentemente, monetários.

O candidato a qualquer cargo público, no Brasil, vive sob essa desconfiança permanente.

O brasileiro supõe, a priori, que o candidato faz promessas para se eleger, a fim de, eleito, se locupletar. É uma visão ao mesmo tempo maliciosa e pueril. Porque a maioria dos homens públicos é homem público por outras razões, que transitam à margem do acúmulo rasteiro do vil metal.

Às vezes o é pelo poder, às vezes pelo prestígio. E às vezes por achar que ele pode, de fato, fazer algo pelas outras pessoas. Ou seja: às vezes o candidato está bem-intencionado.

É o caso dos três principais candidatos à Presidência da República, Dilma, Serra e Marina. Tive a oportunidade de conhecê-los mais de perto ao entrevistá-los nas edições do Painel RBS. São pessoas honradas, que querem fazer o bem, cada qual com suas características.

Serra é um gerente paulista com a eficiência e a competência típicas de um gerente paulista, mas também com o cartesianismo arraigado de todo gerente paulista. Dilma é uma desenvolvimentista aparafusada na realidade brasileira, uma estudiosa que sabe o que quer, uma especialista em governo que tem o governo todo dentro da cabeça. Marina é uma pessoa sensível e corajosa, com uma ideia de mundo menos materialista e mais humana do que os outros dois, uma mulher que tem no olhar uma sombra de tristeza inerente da condição feminina e uma luz de sabedoria inerente da condição de mãe.

O Brasil estará razoavelmente bem servido com qualquer dos três candidatos que escolher.

Eu já escolhi o meu.


Comentários:


David Coimbra inicia o seu texto com uma pequena reflexão sobre antigas filosofias e destaca o pensamento:

– "Com a medida que julgares, serás julgado".

Após isso ele faz uma adaptação ao atual modelo de vida da sociedade em que o dinheiro está sempre em primeiro plano. E chega à pergunta:

-“O que ele quer ganhar com isso?”

Aí está escancarado o problema pelo qual passamos ao tentarmos escolher o nosso candidato para as eleições, pois partimos do pressuposto que precisamos de alguma razão para tomar qualquer atitude.

O homem mantém uma permanente desconfiança em relação aos políticos, presumindo que todas as promessas deles são feitas apenas para que se atinja a conquista do mandato e nada mais.

David Coimbra sugere que é possível que o político esteja bem-intencionado e que é necessário que "deixemos de lado" esse preconceito formado pela sociedade e passemos a olhá-los com "melhores olhos".

As eleições estão chegando e os candidatos que se destacam para a conquista da presidência são Dilma, Serra e Marina; que apesar de terem filosofias muito diferentes sobre como o Brasil deve traçar o seu caminho para atingir o desenvolvimento, são pessoas honradas e com totais condições de administrar o nosso país.



Link:

http://wp.clicrbs.com.br/davidcoimbra/2010/05/21/em-quem-vou-votar-para-presidente/?topo=2,1,1,,,2

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